- , 18 de Dezembro de 2024
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Jarib B D Fogaça
Sócio na JFogaça Assessoria e conselheiro independente.
O eterno desafio da taxa de câmbio
A gestão da taxa de câmbio é uma incógnita constante para países e empresas, exigindo estratégias que mitiguem riscos e garantam resiliência diante das flutuações inevitáveis do mercado global.
Em outra época, já tratamos deste assunto: o desafio que os países enfrentam em relação à taxa de câmbio de sua própria moeda quanto ao dólar americano. Na grande maioria dos casos, o que eles enfrentam é a desvalorização de seu poder monetário em relação ao dólar americano.
No Brasil, desde que o plano Real foi implementado há 30 anos, a gestão do país tem sido baseada no tripé macroeconômico: meta fiscal associada aos gastos do governo, meta de inflação que o Banco Central deve perseguir, e câmbio flutuante.
No câmbio flutuante, o preço da moeda nacional em relação à americana varia conforme a dinâmica de oferta e procura no mercado. Em casos raros, a autoridade monetária eventualmente pode realizar algumas intervenções para atenuar a volatilidade cambial.
Desde a implantação do real, a taxa de câmbio para o dólar americano já se multiplicou perto de 6 vezes; quando implantado, a taxa foi de R$ 1 x US$ 1 – um real para um dólar! Então sempre surge a pergunta: de onde vem toda essa desvalorização? Sem mencionar o impacto direto nas empresas com alguma exposição à flutuação da taxa de câmbio do dólar americano, seja importando, exportando ou mesmo com exposição financeira de dívida em moeda estrangeira.
Podemos tomar alguns indicadores macroeconômicos comparativos desses 30 anos para nos auxiliar a entender a situação.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 1994 foi de R$ 361 bi, e isso correspondia à época a US$ 427,7 bilhões! O PIB dos Estados Unidos em 1994 foi de US$ 10 trilhões. Segundo dados preliminares, o Brasil deve fechar 2024 com valor corrente de PIB de US$ 2,331 trilhões. E os Estados Unidos com uma projeção para 2024 de US$ 28.781,10 bilhões [ou seja, US$ 28,7 trilhões]! O PIB brasileiro se multiplicou mais de cinco vezes nesses 30 anos e o PIB americano apenas três vezes, mas são PIBs de proporções desproporcionais!
Agora vejamos o PIB per capita comparativo. Usando uma informação “atualizada”, ou que teria sido ajustada pela inflação do período para os dias atuais, esse comparativo nos mostra que estamos “parecidos”, pois ambos triplicaram nesses 30 anos.
EUA – 1995 – US$ 28.690,88 per capita; em 2024 está estimado em US$ 85,3 mil;
Brasil – 1995 – US$ 4.748,22 per capita; em 2024 está estimado em US$ 11,3 mil.
Poderíamos aqui trabalhar com muitos outros indicadores, mas o que essas comparações nos confirmam é que gerenciar flutuações da taxa de câmbio é impossível, seja para os governos ou para as empresas. Toda e qualquer ação tende a ser apenas uma medida temporária (um paliativo) para as circunstâncias, que não significa uma solução final para tal problema.
Este é um assunto tão antigo e popular que, quando as empresas americanas começaram a fazer negócios em todo o mundo, um dos padrões contábeis mais famoso emitido era o SFAS 8 – Contabilidade para a Conversão de Transações em Moeda Estrangeira e Demonstrações Financeiras em Moeda Estrangeira (emitido em 10/75). O padrão tinha como objetivo determinar adequadamente, em dólares americanos, os resultados da subsidiária estrangeira e sua consolidação.
E o desafio não acaba... Gerenciar transações internacionais dentro de uma empresa, incluindo transações comerciais como exportação e importação, e financiar as operações estrangeiras foram e continuam sendo um grande desafio. A comunidade empresarial tem abordagens diferentes: enquanto alguns preferem financiar suas operações centralmente na matriz, outras buscam financiamento local no nível da subsidiária.
A moeda de qualquer país e sua relação com as principais moedas, principalmente com o dólar norte-americano, é, em essência, também uma mercadoria, uma matéria-prima com a qual as empresas têm que lidar constantemente, e a taxa de câmbio se torna uma variável incontrolável.
A literatura contábil atualizada, seja americana ou internacional (IFRS), fornece os meios para a preparação dos relatórios financeiros de empresas que operam em países estrangeiros. As diferentes características operacionais e econômicas de vários tipos de operações estrangeiras serão distinguidas na contabilização delas. Os ajustes para mudanças na taxa de câmbio são excluídos do lucro líquido para aquelas flutuações que não impactam os fluxos de caixa e são incluídos para aquelas que impactam.
Essa é a essência de como as demonstrações financeiras contabilizarão as mudanças na taxa de câmbio e devem ser um guia de gestão empresarial para como um negócio deve ser operado e gerenciado em relação às taxas de câmbio.
Uma operação que é relativamente autocontida e integrada a um país deve evitar o risco de mudança na taxa de câmbio, enquanto uma multinacional com operações estrangeiras que são uma extensão das operações domésticas da controladora terá que lidar com isso, apropriadamente. A demonstração contábil exige o conceito de moeda funcional da entidade, que é a moeda do ambiente econômico primário no qual essa entidade opera. Normalmente, será a moeda do ambiente econômico no qual o dinheiro é gerado e gasto pela entidade.
Toda essa abordagem nos remete à importância de como a administração avalia seus negócios, seja pelo país e ou pela moeda em que opera, o que vai além da geografia e, em muitos casos, também é representada por setores.
Essa análise conflitante coloca muitas empresas em apuros, pois elas estão envolvidas em um negócio em uma moeda e são financiadas em outra moeda, independentemente do país em que operam. E quando as consequências negativas de uma flutuação de taxa aparecem, muitos esperam que os bancos centrais ajam, esperando que terceiros resolvam um desequilíbrio de moedas, países e setores que foi criado dentro da própria empresa.
A gerência de uma empresa frequentemente insiste no fato de que tem nenhuma responsabilidade pelo que acontece com a taxa de câmbio. É verdade, claro, que eles não são responsáveis por aquelas oscilações de taxa que não estão relacionadas a condições ou valores intrínsecos de mercado. No entanto, bons gerentes produzem um bom resultado de longo prazo, apesar das flutuações da taxa de câmbio.