- , 23 de Setembro de 2016
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Jarib B D Fogaça
Sócio na JFogaça Assessoria e conselheiro independente.
Sob nova direção
O que você faria se fosse o novo presidente da sua própria empresa?
Há poucos dias tivemos a posse de um novo presidente no nosso país. Estamos sob nova direção. Este é um evento que sempre acontece de tempos em tempos, nos países e nas empresas. Sempre temos troca de comando e, como consequência, troca do modelo de comando, além da confirmação dos objetivos e do modelo adotado.
No discurso recente, o presidente que assumiu nosso país apresentou seu horizonte de tempo e a expectativa: “... inauguramos uma nova fase; uma fase em que nós temos um horizonte de dois anos e quatro meses... E espera-se que nesses dois anos e quatro meses nós façamos aquilo que temos alardeado, ou seja, colocar o Brasil nos trilhos”.
Nesse discurso ele também tratou da reconfirmação de seu modelo de comando, da sua forma de governar: “... disse que a minha forma de governar é por meio da descentralização, da ação sem embargo da centralização das decisões...”.
Apesar do horizonte desse governo ser de dois anos e quatro meses, é muito comum e natural que se espere ações rápidas que promovam resultados rápidos, sendo esse início como um termômetro, um balizador da forma de governo que teremos, da linha de comando e dos resultados a se esperar tanto na sua natureza como na sua velocidade e execução. Muitos autores discutem as estratégias e táticas que se deve adotar nos primeiros 100 dias, outros falam nos primeiros 90 dias, o que não muda muito, pois estamos falando de um horizonte típico de 3 meses. No nosso caso seja um ou outro horizonte, o que me parece muito apropriado é tomar como horizonte a entrada do próximo ano, de 2017, como referência.
Como queremos estar na entrada do próximo ano?
A maior parte desse processo de recuperação, de retomada e de recolocar a empresa nos trilhos, se origina no dirigente principal da empresa, seja ele proprietário ou não. E com a proposta de se recolocar o Brasil nos trilhos, qual seria a sua proposta de recolocar sua empresa nos trilhos?
O que você faria se fosse o novo dirigente da sua própria empresa?
Tomando como referência o livro “Os primeiros 90 dias”, do professor Michel Watkins, podemos tirar várias lições, a começar por “Evitar ciclos viciosos”. Há uma série de armadilhas pessoais, armadilhas do comportamento como chamei em outro artigo, em que estamos sujeitos a cair, constantemente. Cada uma delas é capaz de levar-nos a um ciclo vicioso, uma dinâmica que se retroalimenta e da qual é sempre muito difícil escapar. Torna-se, portanto, essencial reconhecer e evitar essas situações. Cada uma dessas sete armadilhas definidas pelo professor são: 1. Andar em todas as direções; 2. Limites indefinidos; 3. Fragilidade; 4. Isolamento; 5. Julgamento tendencioso; 6. Fuga a responsabilidade; 7. Chegando ao ponto máximo (ao extremo).
Entretanto, a pergunta é o que fazer para se evitar essas armadilhas e, mais ainda, preparar sua empresa para entrada do novo ano, renovada, pronta para a retomada, adotando um novo modelo, como se você fosse um novo dirigente da sua própria empresa. Como sair de ciclos viciosos e entrar em ciclos virtuosos? O professor chama essa busca de “autoeficácia”, um estado de comportamento que se atinge a partir de um alicerce com três pilares. Autoeficácia está associada a efetividade das nossas ações, dos nossos comportamentos. Tem o significado ou seria nossa habilidade de produzir os resultados pretendidos ou desejados por meio das nossas ações.
Os três pilares identificados e suas características são:
Planejamento sistemático;
Execução disciplinada;
Consolidação dos sistemas de apoio.
Planejamento sistemático - é imprescindível se adotar uma estratégia que inclua claramente quais são as prioridades, quais são os planos e quais as ações necessárias para a retomada que se vislumbra. Uma estratégia funcionando rapidamente e produzindo alguns resultados iniciais palpáveis é fundamental, pois proporcionará tanto ao dirigente como à toda equipe, energia e confiança por aquilo que se está concretizando. A medida em que se progride ao longo das etapas de retomada, pode-se então pensar nos desafios de médio e longo prazo.
Execução disciplinada - saber o que fazer não é o mesmo que fazê-lo. As disciplinas pessoais são rotinas regulares que a pessoa se dispõe a cumprir. Destaco apenas três delas, que acredito, nos ajudam muito na nossa disciplina: 1. Acompanhar o planejamento, de forma regular, rotineira e contínua, e não apenas esporadicamente. Essa prática deve ser repetida ao final de cada semana, mês, e se tornar realmente um hábito; 2. Não assumir compromissos irreais, não assumí-los ao sabor do momento. É preciso ter em mente que se temos um planejamento então os compromissos a serem assumidos devem se adequar a esse planejamento; 3. Focar no processo, sempre. Não basta termos boas ideias, devemos assegurar que essas boas ideias sejam discutidas dentro do próprio processo do planejamento, sem perdê-las, mas assegurando sua consistência e implementação.
Consolidação dos sistemas de apoio – essa consolidação, inclusive, depois de um longo período de turbulência econômica como vivemos, deve ser focado em três aspectos: 1. Garantir o controle local, assegurando que se conta com a infraestrutura básica de apoio, re-estabelecimento de rotinas básicas pré-estabelecidas e reconfirmação das expectativas de toda equipe; 2. Estabilizar o cenário doméstico, evitando batalhas internas simultâneas e um número exagerado de frentes de trabalho; 3. Criar uma rede de assessoria e aconselhamento. Não há uma pessoa, por mais capaz que seja, que possa fazer tudo sozinho. Desenvolva uma rede de assessores de confiança, considerando assessores técnicos, intérpretes culturais e analistas políticos, bem como combinando-os entre internos (da própria organização) e externos (do mercado).
O dirigente (sob nova direção) precisará manter seu equilíbrio dia após dia. Todas as suas escolhas, decisões e ações, por menores que sejam, se acertadas, serão capazes de criar impulso para toda organização na retomada. Conforme cita o professor em seu livro: “As ações do dia a dia durante o período de transição estabelecem o padrão para tudo o que vem depois, não apenas para a organização, mas igualmente para a eficácia [efetividade] – e realização pessoal – do líder”.